Author: Jorge Goncalves Filho

  • NRF 2025: Por onde começar?

    NRF 2025: Por onde começar?

    De 12 a 14 de janeiro aconteceu a tradicional NRF – National Retail Federation 2025, Big Show, em Nova Iorque, nos EUA. Em sua 115ª edição, tem sido, globalmente, o maior evento anual de varejo, contou com a presença de mais de 70 países e atraiu cerca de 38.000 participantes e uma representação significativa do Brasil, com mais de 2.000 participantes.

    Muitos artigos têm sido publicados sobre o evento, e antes de comentá-lo, mencionarei outro evento que antecede a NRF, a reunião anual da FIRA – Federação Internacional das Associações de Varejo.

    A reunião da FIRA teve a participação de 28 associações de varejo, de 19 países de todos os continentes, mostrando a força do varejo no mundo, na qual o IDV (Instituo para Desenvolvimento do Varejo) se fez presente pelo Brasil. Na reunião, foram abordados temas da economia e do varejo mundial.

    Podemos inferir que os países participantes têm preocupações muito semelhantes, guardadas as devidas proporções: inflação em alta, elevada taxa de juros, baixo crescimento econômico, questões de desempenho dos governos e, na Europa, preocupações com a baixa taxa de natalidade. Não se percebeu entusiasmo com o futuro da economia na maioria dos países, exceto os Estados Unidos, certamente motivados pelo momento de transição de governo.

    Um ponto comum, e de destaque, na reunião do FIRA, foi o crescimento exponencial nos últimos anos das exportações de pequenos volumes (cross-border) dos países asiáticos para praticamente todos os países presentes, em que na sua maioria, estão, digamos, “desorientados” quanto ao que devem fazer para contê-las. Nesse sentido, podemos afirmar que o Brasil está no caminho certo, pois iniciamos uma governança visando à equidade concorrencial com o programa Remessa Conforme, que começa a mostrar resultados, se bem que ainda insuficientes.

    Voltando à NRF 2025, durante o evento, foram ministradas 250 palestras que cobriram uma variedade de tópicos, importantíssimos para o setor de varejo, e também houve ampla área de exposição de produtos e serviços, com cerca de 800 expositores, que apresentaram inovações que estão moldando o futuro do varejo, desde soluções de pagamento até ferramentas avançadas de análise de dados.

    As conclusões publicadas na imprensa mundial sobre a NRF 2025 destacaram vários pontos importantes, tais como:

    • As lojas físicas estão se reinventando, para, além de atrair os clientes, mantê-los por mais tempo em seu interior, resultando na crescente importância da personalização e da experiência do cliente no varejo moderno.
    • O papel crucial da sustentabilidade e da responsabilidade social nas operações de varejo, temas presentes em várias palestras, porém, com menor intensidade neste ano.
    • O impacto das tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, focando no aumento da produtividade, no aprimoramento das operações, no entendimento do comportamento do consumidor e na comunicação.
    • Os ganhos potencializados com a implantação eficaz do omnichannel, indispensável para o crescimento e sucesso no varejo.
    • Avanços no marketing e monetização de espaços digitais e físicos, com infinitas possibilidades de retail media.

    Com tantas palestras e expositores de tecnologia de produtos e serviços, gerou-se um volume importante de matéria-prima para muitas empresas especializadas em varejo fazerem excelentes encontros no Brasil de pós-NRF.

    Quem esteve na NRF ou já se informou bem sobre o apresentado no evento, dependendo da estrutura e porte da empresa, pode estar se perguntando:

    Por onde começar?

    A resposta é complexa. Toda tecnologia disponível, como a loja totalmente autônoma – controlando tudo, desde a entrada do cliente, reposição de mercadorias, pagamento por meios digitais da compra, etc. –, o checkout por imagens sem uso do código de barras, o inventário de mercadorias no chão de loja feito por robôs, as estratégias de mídia digital com uso da inteligência artificial generativa e todas as demais maravilhas e estratégias apresentadas, dependem, antes de tudo, de se ter uma base de dados estruturada, sólida e constantemente atualizada, gente especializada e escolha das ferramentas certas. Sem esta estruturação inicial, muito bem implantada, corre-se um risco significativo de insucesso.

    O uso de tecnologias avançadas não é mais uma tendência, mas uma necessidade estratégica para empresas que desejam se manter relevantes no mercado.

    Então, o varejo brasileiro tem uma missão importante, acompanhar as tendências tecnológicas, implantá-las e, ao mesmo tempo, garantir o retorno dos investimentos feitos em tecnologia, algo desafiador para todos os tamanhos de varejo, em particular para as médias e pequenas empresas, que sofrem com a escassez de recursos financeiros.

    O setor de varejo, que representa cerca de 25% do PIB, por sua importância na economia, requer programas de apoio financeiro públicos e privados que possibilitem seu desenvolvimento tecnológico, dando suporte à construção de um varejo pujante e moderno no Brasil.

  • Retrospectiva 2024 no varejo

    Retrospectiva 2024 no varejo

    Caros leitores, um ano “fora da curva” está terminando, para alguns setores um ano mais difícil de que para outros.

    Iniciamos 2024 recebendo, para aprovação, o PLP 68/2023, destinado à implantação da reforma tributária, mais diretamente do IBS e do CBS, que resultam no IVA (Imposto e Valor Agregado), que afetará a todos, indústria, comércio, serviço e consumidores; e o PLP 108/2023, que implantará o Comitê Gestor da reforma tributária, que cuidará de como será administrada e distribuída toda a receita dos impostos, as fiscalizações e outros atributos governamentais; comitê, este, com muitas polêmicas a serem tratadas.

    Vamos evitar, aqui, entrar em detalhes da reforma tributária, mesmo porque, após o PLP 68/2023 ter sido trabalhado há “n” mãos na Câmara, incluindo todo o trabalho dos lobistas e grupos de interesse, em que cada um buscou defender o seu setor, nem sempre em linha com os interesses do país, o relatório foi aprovado e encaminhado ao Senado, com previsão de IVA de 26,5%, fruto de todas as modificações, reduções e excepcionalidades introduzidas no PL. Vale lembrar que quando se iniciou a reforma tributária, o IVA estimado seria em torno de 22%.

    Agora, na tramitação no Senado, já se fala em IVA superior a 28%, logicamente por conta de mais exceções e ajustes sempre justificados. Teremos o maior IVA do mundo, ao que se sabe, superando o da Hungria, que é de 27%. E mais, uma leitura atenta, com mais profundidade do PL68/2023, mostra que não há limite para o IVA, podendo superar os 28%, e somente após finalizar a implantação da reforma tributária, em 2032, é que se verificará o IVA praticado e será criado um projeto de lei sugerindo retirar exceções e eliminar desiquilíbrios, buscando atingir 26,5%. Então, difícil pensar que após anos de implantação da reforma tributária e excesso de arrecadação ou, digamos, arrecadação fora do percentual planejado, haverá uma forte correção e redução. Aguardemos os impactos na economia e no varejo, principalmente.

    Caminhando por 2024, encontramos uma outra batalha, exaustiva, mas não finalizada, do retorno do Imposto de Importação nas operações de vendas de pequenos valores via cross-border. Foi uma intensa luta, com dezenas de associações e institutos de varejo apresentando argumentos técnicos e sociais de eliminação de empregos no país ao Congresso e ao Executivo, além de iniciativas junto ao Judiciário, no caso, o STF (Superior Tribunal Federal), para que retornasse o imposto de 60% que foi reduzido a zero. Um dos mais consistentes estudos encomendados pelo IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) junto ao IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) ratificou o que todos sabiam e sabem, a carga tributária média na cadeia de fornecimento até o cliente consumidor é superior a 90%, logo, a batalha não terminou. Temos que evoluir, uma vez que o aprovado e em vigência até o momento leva a uma carga tributária de 44,6%, (composição de Imposto de Importação de 20% + 17% de ICMS modal). Fácil concluir que, apesar de alguma melhora, estamos na metade do caminho e temos que alcançar a isonomia tributária. Este assunto cross-border ainda tem outros pontos importantes, inaceitáveis, como a entrada de produtos importados sem certificações. Aquelas mesmas que são exigidas no mercado interno com pesadas penalizações quando não cumpridas.

    Os dois temas abordados acima, reforma tributária e cross-border, já seriam suficientes para demonstrar como se requer muita energia para trabalhar e empreender no Brasil, porém, em seguida, eclodiu outro tema, também muito relevante para a economia, as bets.

    As bets têm tirado bilhões de reais de circulação do varejo, serviços, educação e outros setores, gerando elevadas despesas para a saúde pública no tratamento do vício do jogo e prejudicado o bem-estar de milhares de famílias. Os valores apostados chegaram a cerca de R$ 90 bilhões em 2023, e a previsão é de R$ 200 bilhões em 2024. Muitas pesquisas foram feitas junto à população, e nenhuma mostrou benefícios pela existência das bets, somente malefícios, salientando que, nelas, foram incluídos os cassinos eletrônicos e os jogos do tigrinho.

    Vieram as portarias do Ministério da Fazenda para a regulação das bets, brandas, de pouco impacto, levando a sociedade civil organizada a pedir a revogação da lei que institui os jogos eletrônicos no Brasil. Por exemplo, o imposto a ser pago pelas empresas de bets é de apenas 12%, uma das menores taxas já conhecidas para qualquer negócio no país, e deveria ser bem mais elevada, se comparada a produtos que geram vício, como o fumo e a bebida, que passam de 60%. Difícil entender porque tal benefício. Há tantos argumentos reais para que se revogue a lei das bets ou que, pelo menos, tenho uma regulação adequada, que tornaria por demais extenso este artigo. Fato é que, no momento, o assunto está no STF, que já determinou algumas medidas corretivas urgentes. E, se ouvirem a população, conforme pesquisa do Datafolha publicada em 24/11/2024 no jornal Folha de S. Paulo, 65% dos brasileiros acham que as bets deveriam ser proibidas e 71% rejeitam as propagandas das bets. A mesma pesquisa levantou que a maioria das casas de aposta recorre à divulgação pelo modelo de afiliados, em que influenciadores divulgam apostas e ganham comissões com base nos valores perdidos pelos jogadores, ou seja, quanto mais o consumidor perde mais o afiliado ganha.

    Ainda cabe registrar que há duas CPIs sobre as bets em curso no Congresso Nacional. Há esperança de que o assunto bet terá um final adequado ao povo brasileiro.

    Vejam que apenas três assuntos mencionados acima, reforma tributária, cross-border e bets, mostra como 2024 tem sido desafiador para o varejo, que é o nosso foco aqui neste artigo. O varejista é um gladiador, sempre participando de batalhas para melhorar seu negócio, um otimista criativo, que enfrenta juros elevados e uma profusão de novas leis e portarias que surgem a todo instante e o obriga a fazer frente a despesas crescentes. Mesmo assim, não desiste, tem um mercado e clientes a serem atendidos e busca oportunidades de criação de novos negócios, melhoria no atendimento aos consumidores e ganhos de produtividade, certamente, proporcionando progresso e o bem-estar à sociedade.

    Caberia mencionar neste artigo dezenas de obrigações legais e operacionais a que o varejo e as empresas em geral são submetidos, e entre muitos pedidos que poderíamos fazer aos dirigentes do país, para o ano novo, destacaria um em especial: tornem o Brasil uma país mais simples para se empreender.